1) Para que servem os mantras?
A palavra mantra significa em sânscrito instrumento para o pensamento [adequado] (man = pensamento, mente; tra = instrumento). Basicamente, um mantra é uma fórmula sonora que tem um significado, uma vibração, e tem como objetivo lembrar algo importante para o praticante.
Nesse sentido, os mantras obedecem a um princípio duplo, que é o que orienta todas as práticas meditativas:
1) Por um lado, constituem uma preparação para purificar os pensamentos;
2) Por outro, são práticas de contemplação que têm o objetivo de relembrar o ensinamento.
Esse som pode consistir em um monossílabo, como o mantra Om, uma frase curta, como Om Gam Ganapataye namah (eu saúdo Ganesha, o deus-elefante), ou uma estrofe de 24 sílabas, como é o caso do Gayatri mantra. O mantra pessoal é prescrito tradicionalmente por um mestre, em função da necessidade e do perfil psicológico do praticante.
2) Como podemos usar os mantras na prática? Por exemplo, quantas vezes podemos repetí-los?
Tradicionalmente, um número razoável de repetições é 108. Para um mantra polissilábico como o Gayatri, por exemplo, isso significa uns 20 minutos por prática. No entanto, há práticas como o purashcharana, em que se fazem 1000 repetições diárias até completar 2.400.000 ao cabo de sete anos. Isso totaliza 100.000 repetições por cada uma das 24 sílabas do mantra.
Outra maneira de usar os mantras é associar a sua repetição mental com a respiração, como no caso do ajapa japa, técnica que consiste em acompanhar a observação da respiração com a mentalização do mantra soham.
3) O que precisamos fazer para entoá-los?
O Kularnava Tantra nos ensina que há três formas de fazer um mantra: mentalmente, murmurando, e em voz alta. Dessas maneiras, considera-se que o mantra murmurado seja mais poderoso que aquele feito em voz alta, e que o mantra feito mentalmente seja mais eficiente que o murmurado.
No entanto, a mesma escritura nos aconselha a mudarmos de técnica quando percebermos que estamos perdendo a concentração ou quando estamos nos distraíndo, passando da repetição mental para a verbalização em voz alta ou vice-versa.
É possível também associar o mantra com um yantra, um símbolo. Por exemplo, ao gayatri mantra corresponde o yantra do mesmo nome, que pode ser visualizado mantendo-se os olhos fechados ou focalizado com eles abertos durante a meditação.
4) Quais são os efeitos dos mantras?
Os mantras têm a capacidade de servir como foco para que a mente se concentre. Ela tem a sua própria agenda e difícilmente pode ser controlada. Se você percebe esta dificuldade na sua meditação, isso significa que sua mente é totalmente normal. Respire aliviado, pois isso acontece com todo o mundo.
Seu trabalho durante o mantra, consiste justamente em trazer incessantemente a mente de volta para o som do mantra e refletir sobre seu significado. Isso traz como consequência o aquietamento da mente. Essa paz mental não é um fim em si mesmo, mas um meio para conseguir o discernimento, para preparar-se para a libertação, moksha. Muito embora os mantras possam ser usados para relaxar, combater a ansiedade ou o estresse, esse fim não deve ser esquecido.
5) Como funcionam?
Conhecer o significado do seu mantra, se você tem um, é fundamental. Tem pessoas que afirmam que os mantras não tem significado, ou que saber o que o mantra quer dizer não é importante, para afastar a desconfiança dos cristãos, ou para apresentar a prática da meditação sobre eles como algo científico. Se o mantra foi especialmente escolhido para você, como é que ele não tem significado? Como posso confiar na eficiência desse mantra ou nas boas intenções de tais professores?
O Rudrayamālā, um texto antigo de Yoga, diz:
Os mantras feitos sem a correspondente ideação
são apenas um par de letras mecanicamente pronunciadas.
Não produzirão nenhum fruto, mesmo se repetidas um bilhão de vezes.
Mantras sem significado não funcionam. Todo mantra tem um significado ou aponta para algum aspecto da Realidade Ilimitada, adequada como tema de reflexão para cada praticante.
6) Por que fazê-los-los em sânscrito?
Na tradição hindu, os mantras são chamados Śruti, revelação. Isso significa que esses sons não foram criados por um autor humano, mas percebidos em estado de meditação pelos sábios da antiguidade, chamados rishis.
Esses sons descrevem as diferentes revelações que estes sábios tiveram, e servem como indicadores para orientar os humanos em direção ao autoconhecimento. Por exemplo, os mahāvakyas, as grandes afirmações da tradição dizem: aham Brahma’smi, “Sou a Consciência Ilimitada”, tat tvam asi, “tu és Esse (Ilimitado)” ou ayam Ātma Brahman, “Esta individualidade é o Ilimitado”.
A língua sânscrita é considerada uma língua revelada, portanto sagrada, assim como o aramaico, o hebraico ou o latim o são para a religião judaico-cristã. Como língua, o sânscrito tem a virtude de conseguir comunicar nuanças de significados muito sutis, e sua vibração sonora produz efeitos não somente na mente mas também, por resonância, nos corpos energético e material.
Por outro lado, o fato de que estes mantras estão sendo recitados nessa língua há milênios, por milhões de pessoas incessantemente, torna a sua força muito especial. A prática dos mantras nos permite e facilita a conexão com as verdades para as quais eles apontas.
Fonte: www.yoga.pro.br
Por: Pedro Kupfer